terça-feira, 10 de junho de 2008

Algumas questões para discussão

Se considerarmos que a expressão mais profunda é proveniente da forma organizada, sendo essa forma viabilizada pela técnica e pelo aprendizado do artista - por sua vez, a técnica uma intermediação entre a vontade e ação - onde situamos nos dias de hoje a tradição e o princípio de excelência de execução?
Se cairmos dentro do ideário tradicional que vê o valor da arte ligado diretamente, em termos de critério, aos princípios e procedimentos técnicos de execução, então estaríamos em algumas artes atravessando um período de decadência?E onde se situariam os artistas que atuam dentro da manutenção da tradição, na reelaboração de esquemas, sistemas e procedimentos de outrora - não falamos em releitura, coisa muito usual nessa era atual, chamada de pós-modernidade - que acabam por colocar esses mesmos artistas em espécies de nichos quase museológicos?Mas se outras artes, como literatura e música erudita, ainda se valem de sintaxes e linguagens mais tradicionais, porque existiria a imposição de uma ânsia do sempre moderno dentro de outras áreas artísticas como as artes plásticas?Afinal o que é moderno ou não, atual ou não?Não seria então o próprio Leonardo um ultra-moderno por definir a pintura como coisa mental?Daí à idéia da arte conceitual, a distância, do ponto de vista epistemológico, não é muito grande.Mas cada era tem suas necessidades próprias de sensibilidade.
Não seria então uma bobagem o critério analítico de arte baseado em estruturas temporais e históricas?Ou seja: nada morre, tudo se transforma, e o novo pelo novo se esgota num narcisismo lingüístico a serviço de egos esquizóides.Numa era em que a educação estética das massas se dá, de forma precária, através das grandes estruturas de mídia, do design, da publicidade, do cinema ou da moda, onde as tradicionais belas-artes referenciais ficaram restritas a culto de minorias descoladas, com a flexibilização tempo-espaço por meio da cibernética informativa, no meio dessa barafunda toda, a concepção de uma arte de elite não seria um contra senso absurdo?Mas e se os finos biscoitos apodrecerem antes que o paladar das massas se aprimore?Ai, ai, ai...Quem tem a resposta? Pelo menos, todo o conteúdo cultural não está restrito a salas de mosteiros, escondido do mundo, restrito aos iluminados sob o sol da tradição.Mas será que vivemos sem algum tipo de tradição? Perguntas, nada mais do que perguntas.Mas a tarefa daquilo que eu chamo de “agente de sensibilização” é vital - qualquer que seja o sistema ou esquema adotado - para a sobrevivência dos impulsos primitivos que, através do engenho humano, transformaram emoção em linguagem de comunicação simbólica. Em arte.

Sergio Marques

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